quinta-feira, 12 de junho de 2008

Cicatrizes internas

Um gosto amargo de muco sobe pela minha boca, vindo direto do meu intestino. O ventre pesa. Necessito colocar este peso para fora. Se não for pelos meios fisiológicos, que seja pelas lágrimas incompreensíveis de minhas palavras.

A sra. Inveja, esta dona tão aprumada, que entra em nossos corações calçando pantufas, suaves, coloridas, mais uma vez fez um estrago. Berrou aos altos cantos de meu ser barbaridades. Me expôs ao ridículo. Me disse que nunca - NUNCA - seria capaz. Capaz de qualquer coisa, capaz de amar, por exemplo.

Ela é a cortesã que cuida da antesala para a solidão. Pode ser que a sua companheira de cômodo não seja tão ruim, mas ela faz tudo para desestimular este encontro, que é inevitável. A solidão, se não nos ataca frontalmente, em nosso físico, nos apunhala em espírito, mesmo quando nos encontramos rodeados de uma multidão.

As pessoas não me olham... a voz da sra solidão faz reabrir cicatrizes internas, feridas antigas, que pensava eu já apagadas há muito tempo de meu ser. Essa reverbaração faz-se ouvir na troca de olhares. Meus olhos são bonitos, simples, claros. Porém, ninguém quer saber da minha clareza tão complexa. Sou como a esfingie da mitologia grega, mas sem palavras coordenadas para formular o meu enigma. A minha mensagem não chega no outro. Como posso querer uma aproximação se nem sequer chego a mim mesmo?

Os outros só escutam sons confusos. É necessário tempo para colocar as palavras na ordem exata. Ninguém quer perder tempo. Todos querem curtir. E a curtição prescinde da profundidade. São prazeres febris, que passam à medida em que o fogo da paixão se consome. E não é a sarça que nunca cessa. É a palha que se evapora em poucos segundos?

Por que será que quero tanto? A d. Inveja está aqui, batendo no meu coração, querendo que eu chore. Ela me pede uma resposta, me exige uma reação. Olho para o espelho. Sinto a terrível solidão que a minha imagem me passa. É terrivel olhar para você mesmo! O código que você transmite já confuso, fica duplamente tenso, quando duplicado. Agora é que não me entendo mesmo. O enigma não se formula. E ele é preciso.

Encaro as cicatrizes internas, olhando no espelho. Não, não preciso um tapa no visu. É inútil. É preciso que haja uma recauchutagem interior. E o meu Ivo Pitanguy sou eu mesmo