segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Palco

"Subo neste palco minha alma cheira talco, como bumbum de bebê..." o famoso verso do ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, é invocado pelos artistas para demonstrar a adoração pelo palco, a necessidade de estar nele, de se mostrar, de mostrar o seu trabalho, etc. Talvez a maior demonstração desta reverância esteja no hábito de Maria Bethania - imitado por n-cantoras da nova geração - em cantar descalça, colocando a sola do pé em contato íntimo com a força da terra.

A minha relação com o palco e com os artistas passa por um leve masoquismo. Gosto dos cantores que sofrem no palco, que se desnudam, que colocam o sentimento e técnica à toda a prova, como se fosse a última coisa que farão em suas vidas. Elis era desta entrega. Biografias de Janis Joplin contam que ela se esgoelava daquele jeito por medo de o público descobrir que tudo aquilo era uma farsa.

Mas a questão é que é uma farsa. Assim como no teatro, os artistas sobem ao palco com suas máscaras e o próprio ato de se desnudar é uma exibição. Porém, quanto maior a capacidade de se aproximar da energia do público, de entrar em sintonia com as expectativas do ouvinte, maior o sucesso e os aplausos. Muitos não entendem, dizem que alguns cantores que fazem esta entrega são chatos. Acredito que não compreendem, nem um pouco, o extremado ato de coragem que é se expor.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Aos chicos de buena vontade

Procurar, buscar, inquirir, perseguir... não restam outros verbos aos homens de boa vontade, voluntariosos, curiosos, intrometidos, que esses. O que seria da vida dos grandes mestres se não houvesse a coragem de se aprofundar em mares onde nem os mais sábios dos deuses ousaram mergulhar?

Adão e Eva foram advertidos. A aventura da maça iria abrir um desejo insaciável pelo inesgotável. A curiosidade os colocou acima de Deus que, certamente, já havia sido Homem e já havia passado pelo processo. Ele sabia do que falava, ele já havia sofrido com o tormento da procura infinda.

Dercy Gonçalves morreu e abriu caminho para que a morte fizesse o seu importante trabalho. Sim, a morte é muito importante para o ser humano. A vida eterna não combina com a matéria. Queiramos ou não, a decrepitude bate à nossa porta todo o dia. Antecipa os vermes que, queiramos ou não mais uma vez, nos comerão, seja em mausoléus, seja cavados no triste anteparo marrom da terra.

Temor da morte ou do desconhecido-além? O que virá após esta passagem? Como garantir a vida eterna pós vida enferma? O que é o amor? Porque buscamos preencher este vazio sendo que temos tudo para não o sentirmos?

Que lástima, são exatamente essas perguntas que deveriam ser banidas de nossas vidas. O sofrimento seria menor? Que lástima, mais uma pergunta! E são tão poucas as respostas...