segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Palco

"Subo neste palco minha alma cheira talco, como bumbum de bebê..." o famoso verso do ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, é invocado pelos artistas para demonstrar a adoração pelo palco, a necessidade de estar nele, de se mostrar, de mostrar o seu trabalho, etc. Talvez a maior demonstração desta reverância esteja no hábito de Maria Bethania - imitado por n-cantoras da nova geração - em cantar descalça, colocando a sola do pé em contato íntimo com a força da terra.

A minha relação com o palco e com os artistas passa por um leve masoquismo. Gosto dos cantores que sofrem no palco, que se desnudam, que colocam o sentimento e técnica à toda a prova, como se fosse a última coisa que farão em suas vidas. Elis era desta entrega. Biografias de Janis Joplin contam que ela se esgoelava daquele jeito por medo de o público descobrir que tudo aquilo era uma farsa.

Mas a questão é que é uma farsa. Assim como no teatro, os artistas sobem ao palco com suas máscaras e o próprio ato de se desnudar é uma exibição. Porém, quanto maior a capacidade de se aproximar da energia do público, de entrar em sintonia com as expectativas do ouvinte, maior o sucesso e os aplausos. Muitos não entendem, dizem que alguns cantores que fazem esta entrega são chatos. Acredito que não compreendem, nem um pouco, o extremado ato de coragem que é se expor.

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