sábado, 13 de março de 2010

Pensamentos desconexos num sábado à noite

Li no jornal que a recomendação para o meu signo era refrear o espírito aventureiro por enquanto, para aproveitá-lo depois. Sou de sagitário, aquele signo que se ouriça só de pensar em imaginar-se preso em uma gaiola... queremos tudo! queremos a liberdade completa! Talvez por isso, fico um pouco chocado ao ler os comentários de Clarice sobre a liberdade... liberdade para quê.

Mas estou bem. Aqui, em casa, no refúgio do meu coração, repasso a minha vida. Antes pensava que, cada sábado à noite que não saísse, perdia um pouco de mim. Perdia a oportunidade de conhecer pessoas legais, tinha a ilusão de que o meu grande amor estaria por aí e que bastaria sair para me deparar com ele.

Hoje eu vejo que posso ganhar mesmo ficando parado. Posso buscar dentro de mim essa energia fugidia, armazená-la, colocá-la dentro de mim para usá-la no momento certo, momento este que traria consigo as melhores condições para viver. Para dançar, para conversar, para amar.

Estou sereno, este texto não é um auto-consolo. Agora, quero ler a íntegra da crítica de Antonio Candido ao Grande Sertão:Veredas. Não me contento com parte, quando o todo está disponível. Lerei na grafia da época, que escrevia facto em vez de fato. Talvez uma fase onde houve espaço para um "c" que nunca era pronunciado. Até as letras precisam se adaptar aos tempos do "menos é mais".

A ficção está difícil de vir hoje, até estava com inspiração, mas ela me fugiu. Não há como se concentrar com tantas idéias circulando entre as instantâneas sinapses. Em um momento, era algo, no milésimo de segundo anterior outro algo atropelou o momento, se sobrepondo, se intercalando, se interremediando.

Não sei bem como escrever. Não sei o que descrever. Sinto que tudo pode ser escrito e nada compreendido. Sinto que tudo deve ser compreendido, para nada ser escrito.

Daqui a pouco vor dormir. Sinto falta de literatura. Mais de 10 dias sem pegar num livro para ler com prazer provoca uma grande crise de abstinência. Chego-me a me imaginar debatendo no chão. Queria Graciliano, mas não acho o meu exemplar. Por outro lado, queria algo curto para devorar por esta madrugada quente. Preciso de refrigerio para a minha alma acalorada por este clima dos trópicos. Preciso de água gelada para refrescar o meu corpo ressequido pela ignorância de não saber.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Lá Fora... Aqui Dentro

Hoje decidi deixar o mundo lá fora a seu léu... Os sons da Baixa Augusta, sempre altos como de costume, chegam a meus ouvidos, como o canto da sereia assoviado que busca o ouvido dos nautas incautos. Mas fechei a porta para o mundo frio que se encerra lá fora. Decidi voltar meus doces ouvidos ao calor do que diz o coração.

Ouço um pouco de música. O sono insiste em não chegar. E, nessa vigília, busco lá dentro, lá no fundo, a essência. Do quê? De mim. Lembro de Clarice nessa hora. Esta busca pelo eu pode ser perigosa... já pensou se descobrimos algo.

Penso nos romãnticos, incompreendidos por uma civilização que condena o abuso, o exagero, o anormal como se esse mantra do menos é mais fosse algum dia normal... mas o que é o normal?

São pensamentos disconexos, que vem e vão num frenético ritmo compassado mais pela respiração que pelas batidas do coração. Junto à minha rua havia um bosque, que um muro alto proibia... mas porque não pulamos o mundo para ver o que há do outro lado? Ser-nos-á permitido, a nós pobres mortais, voltar a enxergar após tão maravilhosa luz?

Os românticos se vestem da couraça da ironia para disfarçar o seu eu... querem chorar, mas riem dos próprios defeitos... querem gritar, mas afinam a voz para soar como uma Nara Leão fora de seu contexto histórico. E buscam justificar injustificadamente o seu eu imutável de romântico inveterado, aquele mesmo... do tipo que ainda manda e haverá de mandar flores.

É um pobre de carinho que se agarra a qualquer mísero e imaginável sopro de esperança. e despreza a realidade, o que tem à mão.

Lá fora, a Baixa Augusta continua a martelar o seu canto de sereio... aqui dentro, o rufar de violinos bem comportados dentro de um smoking continua a alumiar a fantasia perigosa e errônea que ainda dá sentido ao bater deste coração.