sexta-feira, 5 de março de 2010

Lá Fora... Aqui Dentro

Hoje decidi deixar o mundo lá fora a seu léu... Os sons da Baixa Augusta, sempre altos como de costume, chegam a meus ouvidos, como o canto da sereia assoviado que busca o ouvido dos nautas incautos. Mas fechei a porta para o mundo frio que se encerra lá fora. Decidi voltar meus doces ouvidos ao calor do que diz o coração.

Ouço um pouco de música. O sono insiste em não chegar. E, nessa vigília, busco lá dentro, lá no fundo, a essência. Do quê? De mim. Lembro de Clarice nessa hora. Esta busca pelo eu pode ser perigosa... já pensou se descobrimos algo.

Penso nos romãnticos, incompreendidos por uma civilização que condena o abuso, o exagero, o anormal como se esse mantra do menos é mais fosse algum dia normal... mas o que é o normal?

São pensamentos disconexos, que vem e vão num frenético ritmo compassado mais pela respiração que pelas batidas do coração. Junto à minha rua havia um bosque, que um muro alto proibia... mas porque não pulamos o mundo para ver o que há do outro lado? Ser-nos-á permitido, a nós pobres mortais, voltar a enxergar após tão maravilhosa luz?

Os românticos se vestem da couraça da ironia para disfarçar o seu eu... querem chorar, mas riem dos próprios defeitos... querem gritar, mas afinam a voz para soar como uma Nara Leão fora de seu contexto histórico. E buscam justificar injustificadamente o seu eu imutável de romântico inveterado, aquele mesmo... do tipo que ainda manda e haverá de mandar flores.

É um pobre de carinho que se agarra a qualquer mísero e imaginável sopro de esperança. e despreza a realidade, o que tem à mão.

Lá fora, a Baixa Augusta continua a martelar o seu canto de sereio... aqui dentro, o rufar de violinos bem comportados dentro de um smoking continua a alumiar a fantasia perigosa e errônea que ainda dá sentido ao bater deste coração.

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