terça-feira, 13 de maio de 2008

Desamparo

Como diria o poeta, Luciano chorava lágrimas. De desalento, de desconsolo. Lembrava de uma cena recorrente, mas esquecida no subsolo de sua inconsciência. Ao ganhar o seu próprio quarto - sonho de qualquer menino - sombras o assustavam. Havia sempre o perigo iminente e irreal de ser agredido.

Agora - anos depois - ele voltava ao sentir tudo isso. Várias sensações em conjunto, ao final, não significavam absolutamente nada. Apenas confusão de sentimentos. Somente profusão de dissabores. Fechava os olhos físicos. Porém, as janelas da alma, teimosamente, insistiam em ficar abertas. Escancaradas. Vendo a vida interior passar. Procurando o velho sábio da praça para conversar. Sobre o quê? Era uma cena muda de um filme silencioso. E sem legendas. Sem ouvidos.

Seu imenso corpo curvava-se para um lado. Pendia-se para o outro. Buscando, em vão, o tênue equilíbrio em cima de uma corda bamba. Até que, sem querer, já desistindo de viver, rende-se a um sono profundo. Sono sem sonhos. Sono sem vida

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