domingo, 24 de janeiro de 2010

solidão

A solidão é um teste de paciência de uma pessoa ansiosa pelo sol, mas que vê o dia passar por uma janela. La fora, chove. Uma chuva de amarelar a pele, de azedar os espíritos. Uma chuva que não consola. Assim como desgarra as particulas do duro barro, transformando-o na pastosa lama que encharca as casas menos preparadas, essas gotas também se infiltram pelo nosso humor, abrindo caminho para os mais vagos pensamentos.

Pensamentos que nos levam às nossas escolhas pessoais. O grande problema do mundo de hoje - assim penso eu - é o excesso de escolhas. Sinto falta de termos apenas uma marca de sabão. Hoje, são tantas, das mais variadas escolhas, opções, variedades, prometendo todos os iníquos e impotentes milagres que é impossível não se arrepender de escolher um caminho. O ideal é mordiscar todos, mas essa opção nos leva ao inevitável tédio.

Escolhi não sair nesta noite. Não quis enfrentar a chuva. Não quis selar meu poderoso corcel negro e sair pela noite a salvar princesas de seus castelos. Não correspondi ao que a mitologia espera de mim, cobra de mim. Uma disposição antanha e ferrenha de salvar princesas, de fazer o bem, de cuidar dos órfãos e amparar as viúvas. Me arrependi? A razão me dá razão, mas o coração condena. Não sei, só sei que hoje, apenas hoje, preferi permanecer junto à minha janela empoeirada, lamacenta e opaca olhando a vida passar, lenta, molhada, e esperando, quiçá, que um tênue raio de esperança chegue amanhã com o primeiro sol da manhã. Que eu, noturno que sou, fatalmente perderei.

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