domingo, 13 de abril de 2008

As revoluções do Cotidiano

Em um documetário sobre a Tropicália e, mais especificamente, sobre o papel de Gal Costa no movimento, Tom Zé, teria dito que a censura não estava tão preocupada com as posições de direita ou esquerda dos artistas. Não consigo reproduzir bem as suas falas, mas só me lembro de que ele teria dito que, "o que incomodava o censor era que, na letra da Tropicália, chamava-se a atenção para a Margarina... a ditadura não sabia lutar contra a margarina, por isso se incomodava."

Tom Zé, antes de tudo, se porventura você ler isto, me perdoe pelas incorreções. O importante é a idéia principal. A tua geração lutou contra os modismos, contra as formas, contra o pré-estabelecido. E invocar o cotidiano, o amor plebeu, foi uma arma - e muito inteligente, por sinal - de marcar território.

Em recente documentário sobre a obra de Nara Leão, a rede Globo resgatou uma fala da cantora, que assumia publicamente a dificuldade de se cantar a obra de Roberto Carlos. "Ele falava sobre uma rotina muito íntima, que é muito difícil para mim, diante da minha timidez".

Dificil para qualquer um. A busca da completa desglamurarização do cotidiano é uma tarefa hercúlea. Espere! Para que isso? Por que é tão difícil, tão imenso, descrever um simples café-da-manha com pão e manteiga, e tornar isso arte!

Roberto Carlos, Chico Buarque, Dominguinhos conseguiram essa proeza. Buscaram no passo atrás do outro... na xicara de cafe suja... nos lençóis suadas... nos hálitos pré-primeira higiene bucal o suave perfume de uma inspiração. A transformação do esterco em rosa é o principal desafio de todo o artista. Por vezes, a matéria-prima não agrada. Mas o resultado é primoroso!

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