segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Amy Winehouse

É certo que o mundo das celebridades tenta criar alguns produtos culturais consumíveis... Madonna, como dizem uns amigos meus, brilhantemente, foi uma das poucas que conseguiu inverter o jogo. Reza a lenda que não Ela não precisa mais da mídia, mas a mídia precisa de Madonna...

Pode-se dizer, por outras razões, que este é o caso de Amy Winehouse, a grande vencedora do Grammy deste ano e que, ironicamente, não pôde comparecer à cerimônia, com o visto negado supostamente por seu envolvimento com as drogas

Digo que as razões são diferentes porque nela realmente se sente uma energia que é ancestral. Não só no clipe de "Rehab" - seu grande hit - mas em outras canções, ouve-se a reverberação de um time de cantoras de jazz que, no passado, impunha uma grande força em suas interpretações. Infelizmente, não conheço todas, mas Dinah Washington, com seu timbre um pouco nasalado e uma potência segura, é uma delas.

Mas a grande arma de Winehouse está no seu olhar. Ao demonstrar, no clipping, insubordinação enquanto, teimosamente, se nega a ir a uma clínica de reabilitação, ela demostra a inquietude de uma verdadeira artista. Um certo inconformismo em relação ao mundo e à sociedade que é paradoxal às declarações que deu de que seu vício em drogas é incurável.

Mais paradoxal ainda: um inconformismo que vende jornais, que atiça a curiosidade da sociedade do espetáculo e que contribuiu, de certa forma, para a conquista de uma premiação no país mais careta do mundo, assolado por uma onda neoconservadora há vários anos e que corre o sério risco de continuar no poder. Esse público aplaude de pé e premia um talento que leva um estilo de vida absolutamente incompatível com os seus dogmas.

Ou estamos diante de uma grande incongruência ou realmente a nossa sociedade do espetáculo é bastante hipócrita!