sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

E vem o coração e diz;;;

Sábado de madrugada. Já passa das 4h da manhã e, se duvidar, corro o risco de ver o dia nascer. Solitário. Ao contrário da música de Cazuza.

Mas eu preciso escrever! Preciso colocar aqui aquilo que oprime meu peito, me faz respirar, prende o meu ar, me faz pensar em tantas coisas contraditórias. Me faz viver.

Acabo de voltar de um encontro com amigos. Bons amigos. Companheiros, leais, que torcem por mim, acreditam no meu potencial. Até muito mais do que eu mesmo. Mas que erro absurdo este que eu cometo de não acreditar de mim.

Antes de chegar ao local do encontro, tenho a grata surpresa de ouvir Nana Caymmi cantando "Em Teus Braços". Gosto desta interpretação que, à esmo, como uma roleta russa emocional, inclui no meu tocador de MP3 (ainda não estou na era do Ipod, acredita?). Começo a chorar no carro. Apesar de sentir que ela - uma cantora tão cavernosa - fez algumas concessões, procurou suavizar a voz, dá para sentir o eco da bela letra de Tom na minha alma.

Mas porque isso? Sinto que é uma música inacabada. Tal como é a nossa vida. Ela pede um complemento, que o maestro, sabiamente, negou. É um complemento que nós temos que infringir ao nosso destino. "Que só em teus braços, amor, eu ia ser feliz"... todos nos sabemos! O Felizes Para Sempre está lá, incrustado nos contos de fada... Mas o que será esse "Pra Sempre", meu Deus?

Eu vou confessar... este blog é o mais íntimo desde que comecei a escrever. Eu tentei não dar nenhuma dica do que eu sou... mas não resisto. Tive um cancer no olho esquerdo. Devido a várias cirurgias, ele é um pouco mais abaixado que o esquerdo. Sabe o vocalista do Radiohead? Pois é. Mais ou menos como o dele.

Porém, isto nunca me atrapalhou. Sempre fui um bom aluno, com boas notas e, sem perceber, com uma forte personalidade. Personalidade que sempre atribui aos meus sofrimentos aos 6 anos. Era um peso demais para uma criança carregar. Neguei que existia o problema. "Eu sou normal!" repetia a mim mesmo sempre. "Hei de vencer", era o meu lema.

Qual o preço pago por esta luta? Uma negação intensa do meu "Eu". Uma busca desenfreada pela perfeição nos outros. Nunca dentro de mim. Tinha vergonha de olhar para dentro de mim, com o meu olho bom e o meu olhinho capenga. Imaginava-me apoderando-me do olho dos outros, do corpo dos outros, que não eram meus!

Por que meu Deus? Para chegar a essa idade sem uma personalidade definida. Sem uma história percorrida, totalmente perdido na encruzilhada das minhas emoções, vivendo a vida dos outros, tentando encontrar o restolho de mim em outras vidas que não foram nunca minhas. Que nunca serão minhas.

Era um menino que gostava de letras. Nunca gostei de imagens. O Menino Maluquinho, para mim, era um engodo. "Para que tantas imagens gigantes cobrindo as páginas?". "Onde estão as palavras?". Gostava das palavras, acariciava-as a cada leitura, voltava quantas vezes forem necessárias para decrifrar trechos e trechos de expressões que me fascinavam. Isso explica o fato deste blog não contar com imagens de suporte. Nunca precisei delas. Ou será?

Era um menino que gostava de escrever. E escrever poeminhas. Redações. Historinhas. Esse menino foi sendo asfixiado por falsas pretensões. Por fingimento de uma pessoa que nunca foi, que nunca era, que nunca estava. Passei 20 anos sem escrever, culpando a preguiça, a correria, o livro da faculdade, o lugar no futuro a me esperar - que futuro? onde está a felicidade?

Era um menino que, na terceira série, ia com uma mochila lilás que adorava, que usei até acabar e acusado de bichinha pelos colegas maldosos. Mas que não ligava. Encontrava forças em mim mesmo e na minha mochila poderosa. Na minha capacidade de argumentação. Na minha inteligência.

Onde está este menino? Será que ainda vive dentro de mim ou foi comprensado pelas necessidades da vida. Sinto que preciso dar fôlego a este menino, preciso dar-lhe amor. Para que ele abra os olhos e veja! Veja, seja lá o que for, antes que seja tarde! Que seja destemido! Que nunca tenha medo de viver! Que nunca tenha medo de ninguém! E, principalmente, que nunca tenha medo dele mesmo e da felicidade que o aguarda na próxima esquina. Sim, a felicidade é tão almejada. Mas ela pode ser perigosa. A Felicidade anestesia.

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