quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

indecifrável

A incomunicabilidade reina nos sentimentos amorosos. Nos cruzamentos de olhares, o amor vem sempre acompanhado do medo: um temor irracional de desagradar, de causar repulsa, da não-correspondência. Nunca nos vêm à cabeça que o fato de o outro se sentir amado pode superar todos os temores, reais e imaginários. Porém... ah! porém! nós temos até medo de causar este sentimento de ser amado.

Por isso, a solidão reina! Já não há mais esfinges que nos desafiem em enigmas. Estamos muito confortáveis na nossa posição, para que avançar? Para que ouvir a voz do coração e tentar ser feliz! Existirá essa quimera chamada felicidade? Ela é uma sensação que combina com o amor, como o arroz combina com o feijão? Ou será que o amor está de flerte com a dor e com o coração dilacerado? Um flerte que não, necessariamente, resultará em relações carnais. Mesmo porque elas já se esqueceram do amor, há muito tempo, em algum lugar do caminho, longe das vistas dos mais potentes espelhos retrovisores. Não nos entregamos mais por inteiro!

As palavras são impotentes para nos proteger dessas sensações vertiginosas. Agora, ouço a voz rouca e deprimida de Maysa e me ponho ainda mais em dúvida se haverá esse paraíso amoroso. A verdade é que um inferno de sensações aquece meu coração. As dúvidas, os medos superaram as delicias do prazer. A nossa finitude e a incerteza de haver um porvir são mais fortes.

Pois é, fica o dito pelo não dito. Não há regra gramatical que se aplique para as descorrespondências... gosto da palavra shelter, abrigo em inglês. Ela é uma palavra acolhedora realmente. Você a escuta. Você se sente até mesmo mais seguro. Mas é uma palavra apenas. Pode ser uma mentira, que suportamos até por uma certa conveniência. Porém, até quando?

Nenhum comentário: