quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O gato de Floripa

Não devia ser adulto. Pelo tamanho, pelugem e carência, o gato da casa de veraneio de Floripa não passava de um filhote. Como todos os outros gatos, é impossível descobrir, de cara, se é macho ou fêmea. Sabiamente, a natureza reservou aos gatos a capacidade de esconderem a sua condição sexual e se revelarem apenas no momento certo.

Porém, uma coisa era sabido. O bichano estava em sua dura missão de aprender a ser gato. Sim, talvez como os humanos, todos os animais devem passar por um período - mais curto ou mais extenso - de aprender o que é ser Eu. Ou será que todos nascemos com alguma predisposição que se revelará em breve ou frustrará toda a nossa espontaneidade?

Só sei que o gato demonstrava outra característica peculiar da sua juventude: a audácia em viver. Embora cercado de desconhecidos, ele não temia ser acariciado, chamado de fofinho, alvo de brincadeiras típicas que só adultos fazem com os gatos. O fato de sussurarmos entre os dentes, usando o agudo máximo da voz - bixanbixanubixanbixanu - soava-lhe como música aos ouvidos.

E, como bom gato que era, ele insistia em seu caminho. Ficava em cima do telhado eternit, tomando impulso para saltar. Ao perceber que conquistou o afeto dos temporários moradores, já passou a querer, insistentemente, invadir a casa. Ops! Intimidade tem limites e, afinal de contas, xixi de gato em uma casa estranha é uma das piores coisas que pode acontecer a um grupo de amigos em um simples veraneio em Florianópolis. O gato já aprendeu desde cedo que o simples desejar não significa necessariamente conquistar. E é bom. Ele aprendeu no momento certo e evitou grandes frustrações futuras.

Os miados insistentes em busca de comida e o olhar: sim, aquele olhar maduro, fixo, amoral, que busca a sedução do alheio, definitivamente, mostram que o jovem gato está em seu caminho certo: o de se tornar um maduro gato para, posteriormente, crescer, reproduzir (seja qual for o seu gênero), gerar novos gatinhos filhotes e, após, morrer, e morrer miando.

Este é o seu ciclo natural, ao qual ele não escapa. A condição que a natureza lhe impôs e que ele respeita, como forma de garantir a sua integridade. Sim, meus amigos, por mais que ele queira, por mais que ele fuja de sua mera condição de gato, a verdade é que, jamais, o gato poderá latir.

2 comentários:

Anônimo disse...

rui, vc é o gato.

rui santos disse...

eu e também você. Alguém duvida disso?